Uma mensagem contundente para Israel

(Samuel Moncada, in ONU, 28/11/2023)

Samuel Moncada, embaixador da Venezuela na ONU, dirigiu-se à Assembleia Geral na terça-feira.

Senhor Presidente, a República Bolivariana da Venezuela condena veementemente a agressão israelita contra a população civil nos territórios palestinianos ocupados. Esta é uma operação de expulsão em massa de um povo inteiro para anexar o seu território pela potência ocupante. É um novo ciclo de terror expansionista, de tantas coisas sofridas pelo povo palestiniano ao longo de 75 anos de ocupação.

Nas últimas oito semanas assistimos a uma escalada dos crimes perpetrados pelo regime israelita contra o povo palestiniano. Quase 15.000 civis inocentes foram assassinados pelas forças de ocupação na Faixa de Gaza, principalmente mulheres e crianças, numa operação de limpeza étnica que nem sequer poupou o pessoal das Nações Unidas, que também foi massacrado.

É repugnante ver como, apesar da crueldade dos factos que estão à vista do mundo, o governo dos Estados Unidos da América e os seus satélites pretendem justificar o injustificável:

Que a potência ocupante está a levar a cabo um genocídio contra o povo palestiniano, tal como definido na Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio e no Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. Perguntamo-nos onde estão aqueles que noutros casos se apressam em aplicar a responsabilidade de proteger, mas agora ignoram os direitos humanos dos palestinianos submetidos à ocupação israelita?

Onde estão os activistas do código de conduta do Conselho de Segurança contra o genocídio ou aqueles que defendem uma redução do direito de veto no Conselho de Segurança quando são cometidas atrocidades em massa? O seu silêncio torna-os cúmplices destes crimes.

Apelamos à condenação nos termos mais firmes das políticas criminosas de Israel contra a população civil. As Nações Unidas devem agir com determinação, incluindo o Secretariado, que tem um papel crucial a desempenhar na preservação do direito à vida de milhões de pessoas inocentes. Não podemos permitir agora que as nossas acções e as nossas omissões nos tornem conjuntamente responsáveis ​​pela aniquilação de um povo inteiro.

Senhor Presidente, Israel não tem intenção de pôr fim à ocupação. Pelo contrário, visa tomar o controlo de todo o território palestiniano ocupado, ao mesmo tempo que altera a situação demográfica, reprimindo os palestinianos e privilegiando os colonos israelitas. Este é o caso da imposição de um sistema de apartheid a esta realidade.

Devemos acrescentar a destruição de dezenas de milhares de habitações, a deslocação forçada de centenas de milhares de palestinianos, bem como os ataques deliberados contra infra-estruturas vitais. Senhor Presidente, hoje temos de fazer progressos com urgência em pelo menos três áreas críticas.

Em primeiro lugar, temos de pôr fim ao ciclo de impunidade. Israel deve ser responsabilizado perante a Justiça Internacional pelos crimes contra a humanidade e pelos crimes de guerra que tem cometido ao longo dos anos, bem como pelo genocídio em curso hoje. A impunidade internacional que lhe é proporcionada por um governo de um dos seus principais parceiros que é membro permanente do Conselho de Segurança, incentiva os crimes cometidos diariamente por Israel.

Em segundo lugar, enquanto a potência ocupante continua com as suas políticas de atirar para matar, bombardear escolas, hospitais, habitações, centros de refugiados ou instalações de armazenamento de alimentos, bem como a violência sistémica por parte dos colonos israelitas contra a população civil inocente. Devemos aplicar medidas provisórias ao abrigo do direito humanitário internacional que garantam a protecção internacional do povo palestiniano.

E em terceiro lugar, é necessário pôr fim à política de colonatos ilegais, aos despejos e demolições de casas, à expropriação de terras palestinianas, às detenções arbitrárias de civis palestinianos inocentes e à perseguição de organizações palestinianas da sociedade civil. Devemos repudiar aqueles que apelam à utilização de armas de destruição maciça contra o povo palestiniano e que encorajam grupos fanáticos a cometer crimes de ódio ou a atacar locais religiosos.

Senhor Presidente, por outro lado, insistimos na nossa rejeição do incumprimento das disposições da resolução 497 do Conselho de Segurança, que há mais de 40 anos exige a retirada de Israel do Golã Sírio e também rejeitamos quaisquer ações tomadas pela potência ocupante para alterar a situação demográfica ou jurídica do Golã sírio ocupado. Rejeitamos quaisquer medidas que utilizem a força para exercer jurisdição e administração neste território.

Chegou a hora de esta Assembleia Geral exigir ações concretas e é por isso que pedimos uma votação a favor de todos os projetos de resolução hoje apresentados nos itens 39 e 40 do programa de trabalho.

Finalmente, reafirmamos a nossa solidariedade para com o povo palestiniano, bem como o nosso apoio à autodeterminação e a um Estado palestiniano que seja independente e soberano nas fronteiras anteriores a 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital e como membro de pleno direito das Nações Unidas.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Fonte aqui


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12 pensamentos sobre “Uma mensagem contundente para Israel

  1. «Quase 15.000 civis inocentes foram assassinados pelas forças de ocupação na Faixa de Gaza»… e não sobra nada para baixas nos guerreiros de Alá? As virgens no paraíso devem estar frustradíssimas!

    Terras por reconhecimento e garantias de segurança para Israel, dizia a resolução 242 de 1967.
    Mas ao tempo faltava um verdadeiro representante do Direito e da Ordem como a Venezuela para dizer o que verdadeiramente importa:
    – Montes Golã, Excelências, são local com privilegiadas condições de bombardeamento sobre a judiaria genocida, é uma prioridade absoluta entrega-los a um Estado tão consistente como o Sírio!
    – Mais ao lado temos o Líbano um Estado em catalepsia.
    – E os palestinos, Senhores, sociedade pacifista e com organização cívica de excelência, com destaque para os de Gaza, que só reclamam o direito de freqüentar os festivais de música em Israel!

  2. Se os pro israelitas quintas colunas de um estado fascista, fanático religioso e genocida fossem palestinianos em Gaza certamente seria diferente. Aceitariam a fome que lhes dá Israel porque seriam mais saudáveis, quase não padecendo de hipertensão, diabetes e outras maleitas de que padecem os povos que podem comer tudo quanto lhes dá na gana. Afinal de contas, a gula é um pecado mortal.
    Aceitariam a discriminação e os trabalhinhos de corno que o ocupante lhes quisesse dar. Dariam de bom grado as suas casas, os seus campos, a sua água a colonos que lhe chamariam preto da areia. Iriam de bom grado viver para lá do sol posto, talvez para a Irlanda. Lá aceitariam de bom grado as agressões de elementos bêbados da extrema direita.
    Acabaria de vez o problema palestiniano. Que mundo maravilhoso esse seria.
    O problema é que os palestinianos teem muito dos antigos portugueses que sempre correram daqui com invasores e que até os comiam. Literalmente.
    Sabem os pro israelitas a razão pela qual é feriado hoje? É porque nos não permitimos que os castelhanos nos fizessem a nós o que os israelitas fazem há décadas aos palestinianos. O nosso suplício durou 60 anos, o dos palestinianos já dura há mais 15.
    A nossa sorte foi que os castelhanos estavam em guerra com meio mundo. Não havia quintas colunas castelhanas pelo mundo fora.
    A não ser assim talvez a nossa sorte tivesse sido a dos palestinianos. Nem mais nem menos. Por isso por mim os pro Israelitas podem ir todos ver se o mar dá choco lá para as bandas de Israel. Disse há algum tempo que nunca mandaria ninguém para lado nenhum mas o que se esta a passar é o grau 0 da infâmia, gente que vive há quatro mil anos a fazer as mesmas atrocidades com os meios de destruição do Século XXI. E gente que não sabe a sorte que tem a defender gente dessa como se tivesse arcaboiço para aguentar a vida debaixo do domínio de gente dessa. E quem defende assassinos é ao lado deles que deve e merece estar.
    E escusam de me mandar para a Faixa de Gaza porque eu quando me quiser matar sei fazer um no corredio.Nao preciso de morrer bombardeado por gente que me chama gentio e vive há quatro mil anos atrás.
    E sim, sei que há judeus que não são assim mas infelizmente não são suficientes para impedir a barbaridade em curso.

  3. Ora vamos lá a ver. É completamente errado dizer que Israel é um Estado fascista. O país bandido, ladrão e assassino que oficialmente responde por esse nome é mesmo um Estado nazi, puro e duro. A convicção assumida de que os seus cidadãos pertencem a um grupo superior a todos os restantes humanos do planeta, e portanto com direitos que aos outros são negados. O desprezo total pelas vidas desses outros, que todas juntas valem menos do que a vida de um único dos que se consideram superiores, eleitos ou seja lá que porra lhes queiram chamar. A convicção de que sobre as terras dos outros, os países dos outros, as propriedades em geral dos outros lhes assistem direitos privilegiados e que esses outros podem das suas terras, países e propriedades em geral ser desapossados em qualquer momento, desde que seja essa a vontade dos eleitos. A convicção, há muito praticada impunemente, de que sobre a vida ou morte dos outros, em qualquer momento e em qualquer lugar, têm direitos que dependem apenas da sua própria vontade. São esses os alicerces sobre os quais se ergue o Estado de Israel, é essa a argamassa que mantém coeso o Estado de Israel, é essa a alma do Estado de Israel. O seu precursor do século passado chamava-se nazismo. Ao seu herdeiro do século XXI deve chamar-se exactamente o mesmo, mesmo que em vez de camisas castanhas ou pretas usem camisas floridas e saias curtas, bikinis ou monokinis. Mesmo que ouçam as mesmas músicas que nós, gostem dos mesmos filmes, frequentem festivais semelhantes, tenham como nós amigos “coloridos” e se enterneçam com a sua própria tolerância a desfiles folclóricos de orgulho gay. Israel é um Estado nazi e a responsabilidade da enorme maioria dos seus cidadãos por aquilo que o Estado nazi israelita faz não é diferente da responsabilidade da enorme maioria dos cidadãos alemães que apoiaram a Alemanha nazi.

  4. Sim, o estado genocida de Israel é efectivamente comparável ao nazismo. Mas é antes de mais fruto de uma mentalidade nascida antes do nazismo. Mais precisamente há uns quatro mil anos atrás. O que é arrepiante é que talvez tenha sido mesmo no Antigo Testamento que o nazismo encontrou a sua inspiração.
    Lá esta, um povo que se julga superior a todos os outros, com todos os direitos sobre os outros, inclusive o de vida ou de morte.
    Quando um dirigente Israelita vem dizer em público que qualquer um, qualquer que seja a sua raça, que içar uma bandeira palestiniana merece a morte talvez tenhamos mesmo de começar a pensar se estamos seguros com as centenas de bombas nucleares que essa gente tem.
    A verdade é que se trata de toda uma religiao fundada na ideia de superioridade de uma religião e de uma raça e que, diferente das outras religiões abraamicas, não dá qualquer possibilidade de sermos considerados dignos de vida pela conversão.
    A única coisa que os nazis fizeram foi substituir a raça judaica por uma pretensa raça ariana.
    Agora talvez nos perguntemos porque é que os países que sofreram colonizacoes e apartheid estão radicalmente contra o massacre em curso e os países que foram colonizadores o apoiam abertamente ou optam por uma abstenção que é ainda mais cobarde.
    A verdade é que Israel é um projecto colonialista. A maior parte dos israelitas é descendente não dos judeus que lá continuaram a viver mas de europeus e norte americanos.
    Ao abrigo de uma Lei do Regresso qualquer um que provasse identidade de religião e raça podia para lá ir. Como dizia uma criatura que conheci “como pode alguém regressar onde nunca esteve?”. Mas a verdade é que regressaram e cada vez são mais. Por isso os nazis de hoje precisam de cada vez mais espaco vital. Que não hesitarao em roubar porque como raça superior teem o direito a tudo.
    Ora o Ocidente sempre viveu do colonialismo. Foi a descoberta da America que permitiu que um continente com os solos devastados por monoculturas sobrevivesse. A batata e o milho alimentaram os nossos famintos. O trabalho escravo dos africanos permitiu desenvolver os territórios conquistados. Pelo meio disso a supressão das populações indígenas foi quase total. Exterminados como animais enquanto os nossos prelados discutiam se eles tinham alma.
    Há para os israelitas está decidido sem espinhas, os palestinianos são animais. Para os pro israelitas certamente também.
    Por isso estão se nas tintas para se Israel faz hoje exactamente a mesma coisa.
    Ja os países que sofreram todas estas aleivosias e não gostaram tratam de chamar os bois pelos nomes quando se trata de Israel e seus crimes.
    Porque o suplício palestiniano já foi o deles e eles continuam a não se fiar em nos, especialmente depois das campanhas do Iraque e da Líbia.
    Tudo isto para dizer que da próxima vez vou me deixar de tantos adjectivos e limitar me a nazi mesmo.

  5. Já o disse aqui mais do que uma vez, à laia de provocação, mas ninguém reagiu, pelo que vou repetir-me: a solução de dois estados, para a Palestina, está morta e enterrada, o nazionismo tudo fez, faz e fará no futuro para a enterrar. A única solução possível e viável, de parto muito doloroso e a muito longo prazo, é a solução do Hezbollah. E qual é a solução do Hezbollah? Eizi-a:

    A TVI transmitiu, em 2009, uma entrevista a Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah libanês, de que, como noutras situações interessantes, tirei fotografias em imagem parada, para memória futura, não fosse os olhos estarem a enganar-me. Esta coisa da propaganda é tão avassaladora, maciça e omnipresente que, por mais despertos que estejamos, e eu estou acordado há muito tempo, há coisas que às vezes contrariam tanto o tsunami de trampa com que nos enchem olhos e ouvidos 25 horas por dia que não conseguimos evitar algum espanto. O que Hassan Nasrallah disse nessa entrevista ilustra bem a diferença entre a realidade e a propaganda nazionista, que precisa desesperadamente de inimigos radicais e intransigentes que lhe justifiquem escalada atrás de escalada, esbulho em cima de esbulho, massacre sobre massacre. E o que ele disse foi isto:

    “A ideia de dois estados é uma ideia votada ao fracasso. Até agora, é um fracasso. Criar um estado palestiniano ao lado de Israel significa destruir esse estado. A solução seria a criação de um único estado. Um único estado no qual coexistiriam muçulmanos, judeus e cristãos. Um estado democrático, pluralista e multicultural.”

    Se isto é um terrorista, eu se calhar sou o rei da Prússia!

    • “O Mandato Britânico da Palestina foi uma entidade geopolítica sob administração britânica que foi criada com a Partilha do Império Otomano após o final da Primeira Guerra Mundial. A administração civil britânica na Palestina operou de 1920 a 1948.” (Wikipedia)

      A Palestina era então uma colónia britânica desde 1920 e depois da II Guerra Mundial, no contexto do processo do fim das colónias em curso, os ingleses e os americanos decidiram criar ali o Estado de Israel, que deveria ser um enclave do Império ocidental na região. Foi uma ação extremamente violenta que vitimizou a população autóctone. Depois eles instrumentalizaram a recém criada ONU, que sempre foi uma organização ao serviço das potências ocidentais, a legitimar a solução dos “Dois Estados”.

      Claro que esta solução nunca teve hipótese nenhuma, como não teve uma outra semelhante, que gerou o estado de “Apartheid” na áfrica do Sul. Mas vai terminar de maneira diferente, porque ao contrário do que foi possível fazer acontecer no país africano, ali não poderá haver nenhuma reconciliação nacional. Já foi há muito ultrapassado o ponto de não retorno.

      Como tem vindo a acontecer com todas as colónias, também Israel terá de acabar. É o sentido da História. Os israelitas terão de fazer as malas e sair dali. Se isso será feito em boa ordem ou em debandada numa estrada pejada de cadáveres é que não se sabe ainda.

      Os israelitas são cerca de 9 milhões. Sem problemas, mais do que esse número de pessoas já deixou a Ucrânia desde o início da guerra. Para os israelitas de ascendência russa, cerca de 30% da população total, os russos têm um território reservado na Federação Russa que é mais extenso do que a atual palestina na sua totalidade, e mais rico também. Território disponível é coisa que não falta por ali.

      Os judeus são cultos, disciplinados e são também em grande parte trabalhadores especializados. Cientistas, médicos, engenheiros, etc. Poderão refazer as suas vidas em outros lugares. Não se tornarão pesados. Alguns virão para a Europa também, outros seguirão para os EUA.

      Só os americanos ficarão a perder. Perdem a sua colónia, o seu enclave geoestratégico. Porque essa é na verdade a única razão de Israel para existir.

  6. Pois é, e a guerra não está a correr nada bem para Israel.

    E devo dizer que isso não é novidade nenhuma para mim dado que, logo no rescaldo da ofensiva das Brigadas Al-Qassam, eu disse aqui, contrariando a opinião de Carlos Matos Gomes, que não me parecia que o Hamas estivesse destinado a perecer na sequência da previsível resposta furiosa dos sionistas.

    Disse-o por considerar que uma ação militar tão bem executada e com uma preparação tão longa no tempo, tivesse o suicídio como único objetivo. Os árabes não são exatamente lemingues e não têm propensão para o suicídio coletivo. Nem os lemingues, de resto. Isso é uma lenda idiota criada por um documentário falso produzido pela Disney em 1958.

    Desculpem lá eu estar sempre a lembrar estas coisas, mas ninguém é perfeito e acho que vocês já devem ter desconfiado de que a humildade não é uma das minhas melhores qualidades.

    Acontece também que, ao contrário de outros que andam por aí, eu não me sinto limitado por nenhum preconceito de superioridade racial do Ocidente, incutido desde os tempos da escola ou transmitido subliminarmente pelo cinema americano. E então não acho que os árabes, e particularmente os palestinos e seus mentores, sejam assim uma espécie de “índios” atrasados que ajem por instinto e ao sabor do fanatismo. Por acaso eles até têm exatamente o mesmo volume de massa encefálica que os ocidentais. E os seus comandantes possuem uma formação militar que em nada fica a dever à dos melhores estrategas da NATO.

    E ainda por cima eles não têm nada a perder e estão a lutar na sua “casa”, no seu terreno, que conhecem como ninguém. E isso faz toda a diferença. Sempre fez, como os americanos e as antigas potências coloniais europeias, Portugal incluído, têm obrigação de saber. Aprenderam à própria custa.

    Israel mobilizou mais de 100 mil soldados em torno da Faixa de Gaza, que tem uma área total de cerca de 360 ​​quilómetros quadrados. A maior parte destas tropas pertence às forças regulares e Israel convocou mais 300 mil soldados e oficiais da reserva – mais do que o número de reservistas convocados pela Rússia para lutar na Ucrânia ao longo de uma frente de 1.500 km contra um exército ucraniano que no início do conflito teria potencialmente meio milhão de homens. Todas as forças regulares que o exército sionista conseguiu reunir foram mobilizadas na Faixa de Gaza desde o início da quarta semana de guerra. Além disso, Israel mobilizou metade do seu stock de artilharia, metade da sua força aérea e cerca de mil veículos blindados.

    As tropas israelitas penetraram em Gaza a partir de três pontos e avançaram protegidas pelos bombardeamentos maciços da aviação, que foram desbravando caminho numa distância de 500 metros adiante. Eles também desembarcaram nas praias e tentaram progredir a partir do mar para o interior, mas aí encontraram uma resistência feroz que os impediu de avançar.

    Os comandos do Hamas não tentam impedir o avanço dos blindados israelitas, o que seria impossível dada a cobertura aérea de que estes beneficiam, mas depois atacam-nos em locais previamente escolhidos, onde existem bocas de túneis. Eles saem rapidamente em pequenos grupos e abrem fogo sobre os blindados, destruindo-os. Muitos soldados israelitas encontraram a morte neste processo, ainda que Israel apenas confirme 70 baixas mortais. Os números reais andarão por várias centenas. O Hamas divulgou de forma documentada a destruição de 320 tanques e outros blindados.

    É a guerra de guerrilha na sua expressão máxima. Israel nunca conseguirá atrair os comandos do Hamas para o combate em campo aberto. Os seus soldados não têm vontade nenhuma de sair dos seus blindados e entrar num combate urbano casa a casa, como fizeram russos e ucranianos em Mariupol e Bakhmut por exemplo. Isso faria disparar o número de baixas para números incomportáveis para os israelitas. E tão pouco podem entrar nos túneis que vão encontrando em perseguição do inimigo, pois eles estarão de certeza armadilhados e rapidamente se iriam tornar nos seus túmulos.

    Israel atingiu assim um ponto de bloqueio do qual não consegue sair. Não significa nada dizer que “ocuparam este ou aquele território”. Porque, se eles lá estão, os comandos Al-Qassam também estão. Mesmo por baixo deles. Esta não é uma guerra do tipo convencional, como sucede na Ucrânia. Ali, quando os ucranianos controlam uma região os russos sairam de lá e vice versa. Em Gaza os dois exércitos inimigos coincidem nos mesmos locais, com os árabes no papel de “snipers” e os israelitas como alvos.

    Foi por se ter chegado a uma situação de impasse, com maior prejuizo para o exército israelita, que Israel finalmente aceitou negociar um cessar fogo e proceder a uma troca de prisioneiros, que é exatamente o que Netanyahu tinha dito que nunca faria. E ainda pior, aceitou fazê-lo nas condições exigidas pelo Hamas, como Scott Ritter muito bem chamou a atenção num texto aqui publicado.
    Esta pausa nos combates beneficia Israel muito mais do que o Hamas, que mantém o seu exército praticamente intacto (terá sofrido cerca de 1 500 baixas num total de efetivos de cerca de 40 000 reforçado com cerca de mais 30 000 provenientes das outras forças de resistência suas aliadas) enquanto que Israel vai ter de repensar toda a sua estratégia.

    Entretanto, na Cisjordânia, prosseguem ferozes combates com as forças do Hezbollah, que não integram o acordo para a pausa nos combates. O facto de Israel ter as suas forças divididas em duas frentes deveria preocupar os seus estrategas militares, já que o Hezbollah éuma força formidável, equipada com armamento de ponta iraniano e possuidora de grande experiência de combate real (que os soldados israelitas não têm) sobretudo resultante da sua participação na luta contra o ISIS na Síria. O Hezbollah tem ainda à sua disposição entre 150 000 e 200 000 misseis de médio e longo alcance capazes de destruir rapidamente toda a infraestrutura de Israel. E poderá ter mais trunfos que ainda não são conhecidos, como é normal em todas as guerras. Nunca se mostra tudo ao inimigo.
    Aparentemente os Israelitas estão confiantes de que o Hezbollah não irá desencadear uma ofensiva decisiva por receio de entrar em rota de colisão com a força de intervenção da OTAN sita no Mediterrâneo. Talvez, mas eu não apostaria o meu dinheiro nisso.

    Uma ofensiva americana contra o Hezbollah levaria à guerra com o Irão e eu não acho que os russos achassem muita graça a isso. Neste momento da sua História, com todo o esforço diplomático que eles estão a desenvolver para ganharem ascendente junto dos países da região, e por extensão em todo o Sul Global, não podem de maneira nenhuma dar-se ao luxo de permitir que o seu maior aliado militar seja eventualmente destruído pelas forças do Império. Isso iria deitar por terra tudo o que conseguiram nesse campo ao longo dos dois últimos anos. Faria desabar (mais uma vez depois da Perestroika) toda a sua credibilidade como potência mundial.

    Repare-se que as sucessivas afrontas que o Rei da Arábia Saudita tem vindo a infligir a Biden e aos seus diplomatas deve-se muito ao facto de ele considerar que tem as costas quentes. O truculento americano não o assusta porque ele acha que tem na Rússia um protetor mais forte e que ainda por cima é mais respeitoso e menos intrusivo. O recuo de Putin numa situação limite como essa seria o fim de muita coisa. O próprio desenvolvimento da organização BRICS+11 seria talvez ferido de morte.

    Também por essa razão se encontra uma frota chinesa com grande capacidade de dissuasão no local.
    Os comandos militares dos Estados Unidos e da Rússia têm vias de comunicação diretas para falarem entre si e de certeza que os americanos foram avisados das linhas vermelhas de maneira bastante enfática. Eu acho que eles estão ali só para fazer pose. Ou então a III guerra Mundial pode estar mesmo ao virar da esquina. Os cogumelos laranja também são possíveis, claro. E eu até acho que prováveis, como já disse aqui mais de uma vez, mas talvez não para já.

    Repare-se que os líderes do Hezbollah e do Hamas, organizações muito próximas e dependentes do Irão, rapidamente se esforçaram por vincar que a decisão da ofensiva “Dilúvio de Al Aqsa” foi exclusivamente do Hamas e nada teve a ver com o governo iraniano. Provavelmente não é verdade mas trata-se de não dar aos americanos um pretexto aceitável para o conflito aberto de grande dimensão (ou um motivo de constrangimento praticamente impossível de engolir) que não interessa a ninguém. Nem aos americanos, obviamente.

    A economia de Israel não poderá suportar uma guerra de vários meses e não se está a ver como é que eles conseguirão atingir os seus objetivos militares em menos tempo do que isso. Aquele conflito tem tudo para durar anos. As brigadas Al-Qassam poderão receber suprimentos indefinidamente por via subterrânea a partir do Egito. Os Estados Unidos, na pessoa de Blinken, já fizeram saber ao governo de Israel que aquela guerra terá de ser resolvida muito rapidamente, de uma maneira ou de outra, supostamente em menos de trinta dias. Porque quanto mais tempo ela durar, maior será a condenação mundial e americanos e israelitas estão no mesmo barco. Todo o trabalho da diplomacia americana no Médio Oriente e em outras partes do mundo será arruinado.

    A indignação do mundo árabe atinge níveis avassaladores, talvez nunca antes atingidos mesmo quando os americanos arrasaram o Iraque e a Líbia, e quase conseguiram fazer o mesmo na Síria, se os russos não tivessem atuado de forma inteligente para lhes frustrar os planos. Aí as coisas foram feitas de outra maneira e os americanos jogaram sabiamente com as grandes rivalidades entre os países muçulmanos da região que eles próprios fomentam. A maior parte das atrocidades cometidas só veio a ser revelada mais tarde. Agora é diferente, com os telemóveis a filmarem tudo e a divulgarem as imagens na net. O mundo está a assistir pela primeira vez na sua história a um genocídio em direto.

    É claro que as elites árabes da região, ainda que em alguns casos possam estar genuinamente indignadas com o que estão a ver, consideram também os interesses que possuem nos países ocidentais e de que não querem abdicar. Mas as suas populações pensam de outra maneira. Ao contrário do que se possa pensar, o facto de os líderes da região serem soberanos que governam por desígnio divino e não políticos eleitos, não significa necessariamente que não podem ser demitidos. Significa apenas que poderão não sobreviver ao processo de impugnação.

    Mais uma vez, não resisto a lembrar aqui o excelente trabalho de destruição da estrutura mundial do poder americano que o velho Biden tem levado a cabo desde que foi eleito. Apenas no decurso de um mandato ele já conseguiu conduzir os Estados Unidos a dois vexames militares espetaculares, no Afeganistão e na Ucrânia, libertar a Rússia da sua dependência face ao Ocidente e lançar a respetiva economia num crescimento de 5% ao ano (algo que a UE não conseguiu nem nos seus melhores tempos) acelerar o crescimento do BRICS e o processo de desdolarização, fazer disparar a dívida americana para níveis realmente estratosféricos e ainda, a cereja no topo do bolo, pôr os líderes dos principais centros de produção energética (dos quais a América depende em absoluto) furiosamente contra si.

    Biden abriu descuidadamente a caixa de Pandora, esquecendo que lhe tinham dito que ali não era para mexer, e ela estava cheia de dragões que rapidamente saltaram para fora e se espalharam pelo mundo vomitando fogo e enxofre contra os interesses americanos nos quatro cantos do planeta.
    O raio do velho tem realmente uma capacidade de gerar o caos que faria corar de inveja qualquer borboleta chinesa que se preze!!!

    Quando a trégua em Gaza terminar Israel irá retomar os bombardeamentos assassinos sobre a população. E as forças da resistência continuarão em segurança, à espera na segurança dos seus túneis fortificados.

    Quando o mar bate na rocha…

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